quinta-feira, 6 de maio de 2010

Gripe Suína

11.5.09
A gripe suína e o erro de Pasteur por Vitor Pordeus

A imunologia vive na fronteira da biologia e da medicina. É quando o conhecimento
sobre o ser humano, sua cultura, seus hábitos, se transforma em natureza, em relações
entre células e moléculas, algo com um sabor ecológico, como o corpo encontra o
mundo. E sendo a biologia uma ciência, a imunologia é um excelente campo para
quem quer explicações científicas, conhecer a natureza a partir de nosso próprio viver,
nosso adoecer, etc. Aliás, sem uma aproximação verdadeira com a biologia a
imunologia seria até hoje uma tecnologia limitada a produzir vacinas e testes
laboratoriais. Na realidade, isto é algo a que uma boa parte dos imunologistas
profissionais se dedica. Isso é terrível porque é muito difícil aplicar um conhecimento
que ainda não desenvolveu suas explicações biológicas. Assim sendo, o conhecimento
básico que deveria servir de alicerce para o que os imunologistas constroem do ponto
de vista tecnológico - vacinas, anticorpos monoclonais, drogas imunomoduladoras – é
frágil e caduco, não está ligado adequadamente ao que sabemos sobre a natureza dos
seres vivos. Por isso nossa compreensão e maneira de lidar com os fenômenos
imunológicos, como gripes suínas e aviárias, AIDS, alergias e doenças autoimunes é
tão ruim, e não consegue lidar com esses acontecimentos biológicos de uma forma
racional. Ao contrario, o que observamos é uma maneira alucinada, irracional, guiada
por uma mídia ignorante e irresponsável, que pode provocar terror e pânico, com
gastos astronômicos do dinheiro público. Mas, a Terra não é o centro do universo, ela
gira em torno do Sol. Há outras maneiras de explicar, maneiras mais racionais e
interessantes, que nos colocariam em uma posição mais adequada de lidar com a
natureza.
Primeiro de tudo: os vírus da família Influenza têm como reservatórios naturais e
assintomáticos as aves, os porcos, cavalos e focas, além do Homo sapiens sapiens e,
de modo geral, tais infecções são assintomáticas, quer dizer, não cursam com uma
doença infecciosa. Os vírus influenza que regularmente circulam entre os seres
humanos são de origem aviária ou suína, e não há nenhuma novidade em uma “gripe
suína”. Há registros de epidemias que provavelmente eram de gripe há mais de 400
anos. Em todos os casos de epidemia e pandemia estavam por trás condições
sanitárias miseráveis, exploração industrial excessiva de homens ou de animais,
modos de vida ultrajantes e anti-naturais, mas nesse assunto ninguém toca, seria
responsabilidade demais com o outro.
Outro dado importante 99% das vezes que você tiver contato com um vírus você não
adoecerá, nem se dará conta disso, a convivência com esses vírus tem sido pacífica
por quase toda a história da civilização. Há descritos hoje mais de 48 mil retrovírus
que estão fisiologicamente incorporados ao genoma humano; mais que isso, hoje
sabemos que esses retrovírus participam de processos importantíssimos na construção
e manutenção do organismo como a montagem do sistema imunológico e a formação
da placenta. Quer dizer, a idéia de que você adoece quando é infectado com um vírus,
ou bactéria, é falsa. Foi esse o erro de Pasteur que apesar de conseguir induzir doença
através da inoculação experimental de microorganismos, não atentava para o
comportamento da maior parte das cobaias, como coelhos e galinhas, isto é, para a
maioria dos animais que permanecia saudável, embora infectada. Pasteur, e outros
cientistas do fim do século XIX, avançaram a idéia de "agentes infecciosos". Os
médicos e a sociedade a incorporaram e super-valorizaram o conceito das vacinas,
menosprezando medidas valiosas e urgentes para a melhoria e manutenção de saúde
pública, para atender pressões de uma mídia que manipula a opinião pública e está
pactuada com a indústria farmacêutica e das vacinas. Vamos assim evitando a única
forma eficiente de medicina, a de medicina de famíla, preventiva, educativa e
promotora da saúde, que tem como base a educação, o saneamento básico a
emancipação do cidadão, sua autonomia. A verdade científica sobre os fatos.
Ironicamente, graças à essa enorme dificuldade que nós, médicos e cientistas, temos
de nos aproximar e conhecer a natureza, por estarmos obcecados com vacinas,
anticorpos monoclonais e outros produtos da biotecnologia, estamos centrados em
nossos umbigos doentes, só pensamos em doenças, transformamos a medicina na arte
das doenças, e não mais na arte de curar. Mas não conseguiremos tratar as doenças
sem entender a saúde. Precisamos recuperar a vitalidade da medicina e cultivar a vida,
fazer biologia, viver com saúde e não mais viver com medo de morrer de gripe suína.
Agradeço a Nelson Vaz as correções

Vitor Pordeus é Médico pesquisador, Coordena o Núcleo de Cultura, Ciência e Saúde
da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil, é associado ao Laboratório de
Imunobiologia da Universidade Federal de Minas Gerais, e Whilhelm Agrícola
Research Grant, Federico Foundation, Zurich, Suíça.

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